segunda-feira, 31 de maio de 2010

A cena que a música evoca

Quando estudamos interpretação, uma das tantas coisas que aprendemos é a criar o ambiente emocional de cada canção. Esse ambiente emocional tem a ver com inúmeras sensações que cada música evoca... uma cor, um sabor, um cheiro, uma imagem, calor ou frio, medo, prazer... enfim, é como se construíssemos uma cena para cada canção.
Essa cena nos ajuda a entrar no clima que a música nos provoca. E resgatar a cena criada cada vez que executamos a canção nos faz interpretá-la a partir da nossa verdade.
Obviamente a nossa verdade nem sempre é a mesma que a do compositor. Aliás, é bem provável que a nossa verdade passe longe da verdade dele, por ser impregnada com a nossa subjetividade, não com a dele no momento da criação.
Falei tudo isso porque queria partilhar com vocês o ambiente emocional que a música "Onze esconderijos" tem pra mim. Se não mencionasse esse "exercício interpretativo", nada do que vou falar faria sentido.
Bem, talvez continue sem fazer (risos).
O fato é que sempre que penso na música, é como se eu me transportasse a um mundo que nunca vivenciei, a não ser por filmes e leituras. É como se não tivesse sido eu a criar o ambiente emocional da canção... mas ele tivesse se manifestado a mim, como numa avalanche de emoções construídas a partir do que o texto sugere.
Quando penso nas palavras que não deveriam ser ditas, vêm-me imediatamente atos que não deveriam ter sido praticados. Ao me deixar envolver pela letra em outros países, outras línguas, porões e diários... acabo imaginando Anne Frank ou o Pianista... ou ainda algum outro personagem qualquer do Holocausto. É como se a música fosse uma manifestação de repúdio ao que NÃO deveria ter ocorrido lá. E ao cantá-la sinto-me naquele momento histórico, naquele lugar... num porão, num sótão, sozinha no escuro, sobrevivendo a tudo aquilo e cantando meu hino de desejo ao não dito, ao não feito.
Apesar da tristeza que a cena sugere, a música de alguma forma me resgata daquele espaço-tempo, como se cumprisse seu papel de denúncia,  de censura (por que não dizer?)... de salvação. Essa sensação é linda...

e me sinto LIVRE!

É essa a cena que a música evoca em mim.
E em você?

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